Profundezas inabitáveis.
Agora, neste momento, me encontro há oceanos de distância, totalmente absorta neste devaneio aquoso que fantasiei. Sentada na areia da praia, ainda não tão acomodada a sua rispidez fora do normal contra meu corpo, tampouco acostumada com as rajadas de ar frio que penetram minha pele e que parecem chegar até meus órgãos, congelando-os.
Apesar dos desconfortos, permaneço, como um barco encalhado. Movo meus olhos ao redor e tudo o que vejo são ondas violentas e inquietas, cheias de ódio, incompreendidas. Engraçado dizer que ao ao invés de me assustarem, elas parecem me chamar, como se de alguma forma desejassem me possuir.
Algumas finalmente vêm até a costa, ameaçam molhar meus pés, mas não os molham. Parecem, em minha opinião, ligeiramente assustadas. Mais uma vem até mim e quebra há alguns centímetros dos meus pés. Logo em seguida, outra... forte o suficiente apenas para encostar em meu calcanhar e deslizar de volta ao seu lugar de origem.
Não é cômico que sua intensidade não sirva para mim? Como se eu apenas a repelisse, como se minha pele fosse um óleo, mais denso, mais escorregadio, mais inconsistente. E mesmo depois de tentar mergulhar em sua imensidão de cabeça, suas águas continuam se retraindo ao meu contato, rejeitando-me e me levando de volta à areia, condenando-me a poder apenas ansia-la.
O vejo livre, em seu eterno vai e vem. Ora tão perto, ora incrivelmente tão longe. Em meus pés, escorrem gotas daquilo que sobrou de suas águas em meu corpo. A medida que escorrem, também rasgam, como uma lâmina afiada.
Há algo de errado em minha superfície? Talvez eu tenha me perdido em uma miragem e nada tenha passado de uma alucinação, totalmente fora da realidade. Talvez tenha sido o meu desejo inconsequente de adentra-lo. Ou talvez eu só seja intensa demais para as suas profundezas inabitáveis.
Imagem via pinterest
Comentários
Postar um comentário